quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Soneto de Camões

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre agente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos coraçães humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?


(Luís de Camões)

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